Nancy-Strubbe

um blog a fingir que é

O poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente. ......... Fernando Pessoa

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paper life - vida de papel

at faustwork

1/22/2006

excerto de noite que ri


(...)
Para quem desconhece o meu processo de selecção de leituras convém aqui fazer um parêntese sob a forma de parágrafo.Todos os livros que chegam às minhas mãos ─ e estão constantemente a chegar e partir, embora o tráfego de partidas seja menos congestionado ─ são postos na estante e enfileirados segunda a ordem de chegada. Só abro excepção aos livros escritos por amigos meus. A Noite e o Riso, por mais que o bichinho da curiosidade mo pusesse à frente dos olhos, teve que navegar por águas antes navegadas, as águas de bacalhau, e esperar que chegasse a sua vez de saltar para a minha cabeceira.Posso adiantar que gostei, que meu deu vontade de rir e de zuca-andor para a noite ─ e quando o universo dum livro nos impele a querer conhecê-lo directamente e transpor a mediação enciclopédica que o próprio nos oferece, bom, nesse caso, devemos tirar o chapéu e tudo o resto para termos intimidade com o autor.Mas já lá vamos…Eis que o Rui Almeida mete o nariz nesta história para a qual as suas fossas nasais pareciam não ser chamadas.Não me recordo onde, quando, a que propósito, não me recordo de nada e nada me importo com isso, mas estou agora a ver e ouvir o Rui revelar-me, ainda antes de eu desfolhar e ser desflorado por A Noite e o Riso, que o Nuno Bragança era católico ─ repito: o Nuno Bragança era católico, sim, era católico, sim passeava-se, embriagado que nem um cacho, pelo Intendente, sim era viciado no jogo, sim colaborou na Seara Nova e no Tempo e o Modo, sim VV convence-te de que uma coisa são os anjos (não têm sexo), outra a guarda (têm cacetete), e outra os católicos (têm, como tu, a virtude no meio das pernas).Esta revelação abriu-me a boca de espanto, mas não me impôs abstinência de espécie nenhuma. Faço da promiscuidade uma prática viva ─ uma prática a que dou vivas hips e hurras. Não se constituiu qualquer complexo em ler o Nuno Bragança (afinal, ainda há umas semanas atrás, eu havia lido o Hitler!). Gosto de visitar os bordéis culturais todos, de privar com as putas que por lá param e parem, os chulos que lhes sugam o tétano e a pachacha. Merecem-me igual, ou vá lá que um homem não é de pau, idêntica atenção e curiosidade. Não respeito nenhum, porque sou inflexível no meu sentido igualitário. Até gostava de encontrar alguém digno do meu respeito. A sério, o meu desrespeito por tudo e por todos não é um capricho. Nem para comigo próprio, eu que, como dizia o poeta, sou vil e reles, adopto uma atitude diferente. Adiante que estou a ficar sem papel [Sic].A estrutura de A Noite e o Riso, conforme atestado em uníssono pelo pregão dos críticos literários, é revolucionária ─ íssima, íssima, para voltar a parafrasear o poeta que todos menos os seus contemporâneos, especialmente os seus vizinhos, o reconhecem como tal. Numa primeira e apressada leitura, não se vislumbra elemento conectivo entre os três, digamos, capítulos ─ e mesmo dentro destes, usemos agora um termo rebuscado para casarmos a grosseria com a erudição e fecundarmos um monstrinho de duas cabeças contraditórias, sub capítulos também não é imediatamente visível a ligação, senão ao leitor que se apaixona por este romance (perdoem-me os senhores experimentalistas e sugirem um sinónimo em experimentalês se faz favor) à primeira vista.Concentre-se no segundo capítulo, o do meio, logo o virtuoso. Cada parte está baptizada (e aqui começa a dar o cheiro a catolicismo) com o nome duma personagem do livro ─ uma pega, um bêbedo, um companheiro de tertúlia. Como a própria bíblia! O Nuno Bragança, não deixando de ser um escritor de vanguarda, um rupturista, diz e cumpre que das fontes originais do pensamento ocidental também bebe.Mas não se pense que se furtou ao efeito estonteante da mistura. Ele quis apanhá-la, à séria e à francesa. Todas as rábulas, ainda que contadas em timbre moral, ecoam a terminologia e a mundovisão surrealista, a prosa decalcada das vivências próprias da beat generation, a náusea e a ambulante condição de estrangeiro do existencialismo, a ideologia marxista.Hoje o Nuno Bragança pouco fala aos ouvidos, encerados por abelhas aberrantes, diga-se de passagem, das novas gerações de literatos (Outro Nuno, o Moura, escreveu qualquer coisa como os poetas seniores continuam a empatar e as esperanças não encontram soluções de ataque). Compreendo em parte porque se trata dum autor que peca (lá estamos a ser católicos) por ter uma escrita e um universo datados, como o gin tónico do Mário Henrique Leiria (datados, repito, mas não fora do prazo, pelo que toca a ler). Esta Lisboa já não existe. O Cesariny, n`Autografia, lamenta que «Lisboa morreu e nem lhe fizeram o enterro».Cada vez conheço mais mortos que deviam dar razão ao HP Lovecraft, provando aos de carne que os de osso podem voltar.Vitor Vicente [
O ANIMADOR DESANIMADO]

in Terra da Alegria

viciado em jogo? essa não me contaste Homem. que pecado!

as coisas que a gente aprende na net a estas horas tardias!


Rune Werner Molnes


quando Pedro soube isto, fechou-te mesmo o céu a 7 chaves.
mesmo assim, aconselho o incauto leitor, a ler do mesmo autor, Directa. outra espécie de noites não referidas aqui.

2 Comments:

Blogger wind said...

Um pouco mal educado este texto.

22 janeiro, 2006  
Blogger paper life said...

são os críticos que hoje temos...

22 janeiro, 2006  

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