Nancy-Strubbe

um blog a fingir que é

O poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente. ......... Fernando Pessoa

A minha foto
Nome:
Localização: Lisboa, Portugal

quem sou? - é irrelevante neste espaço

máscaras minhas:

paper life - vida de papel

at faustwork

1/31/2006

Sirventês

at Fotosearch

Do que sabia nulha ren non sei,
polo mundo, que vej’assi andar;
e, quando i cuido, ei log’a cuidar,
per boa fé, o que nunca cuidei,
ca vej’agora o que nunca vi
e ouço cousas que nunca oí.


Aqueste mundo, par Deus, non é tal
qual eu vi outro, non á gran sazon,
aquel desej’e esto quero mal,
ca vej’agora o que nunca vi
e ouço cousas que nunca oí.


E non receo mha morte por en,
E, Deus lo sabe, querria morrer,
Ca non vejo de que aja prazer,
Nen sei amigo de que diga ben,
ca vej’agora o que nunca vi
e ouço cousas que nunca oí.


E, se me a mim Deus quisess’atender,
per boa fé ûa pouca razon,
eu post’avia no meu coraçon
de nunca já mais neûn ben fazer,
ca vej’agora o que nunca vi
e ouço cousas que nunca oí.


E non daria ren por viver i
en este mundo mais do que vivi.



Pêro Gomes Barroso

1/28/2006

Cântico

Carlos Arriagada



Num impudor de estátua ou de vencida,
coxas abertas, sem defesa... nua
ante a minha vigília, a noite, e a lua,
ela, agora, descansa, adormecida.

Dos seus mamilos roxo-azuis, em ferida,
meu olhar desce aonde o sexo estua.
Choro... e porquê? Meu sonho, irreal, flutua
sobre funduras e confins da vida.

Minhas lágrimas caem-lhe nos peitos...
enquanto o luar a numba, inerte, gasta
da ternura feroz do meu amplexo.

Cantam-me as veias poemas nunca feitos...
e eu pouso a boca, religiosa e casta,
sobre a flor esmagada do seu sexo.


José Régio

não resisti ao espelho e lá olhei.




resultado: a minha qualidade é tal que até a mim ofusca.

pois...

1/27/2006

O Poeta e o Poema

Rui Pedro Benevides

Nenhum poema se faz de matéria abstrata.
É a carne, e seus suplícios,
ternuras,
alegrias,
é a carne, é o que ilumina a carne, a essência,
o luminoso e o opaco do poema.

Nenhum poema. Nenhum pode nascer do inexistente.
A vida é mais real que a realidade.
E em seus contrastes e seqüelas, funda
um reino onde pervagam
não a agonia de um, não o alvoroço
de outro,
mas o assombro de todos num caminho
estranho
como infinito corredor que ecoa
passos idos (de agora,
e de ontem e de sempre),
passos,
risos e choros — num reino
que nada tem de utópico, antes
mais duro do que rocha,
mais duro do que rocha da esperança
(do desespero?),
mais duro do que a nossa frágil carne,
nossa atônita alma,
— duros pesar de seu destino, duros
pesar de serem só a hora do sonho,
do sofrimento,
de indizível espanto,
e por fim um silêncio que arrepia
a epiderme do acaso:
E por fim um silêncio... Nenhum poema
se tece de irreais tormentos. Sempre
o que o verso contém é um fluir de sangue
no coração da vida,
no pobre coração da vida, aqui
paralisado, além
nascente no seu ímpeto de febre,
no coração da vida,
no coração da vida,
(da morte?)
e um frio antigo, e as bocas
cerradas, olhos cegos,
canto urdido de cantos sufocados,
e uma avenida longa, longa, longa,
e a noite,
e a noite,
e, talvez, um sublime amanhecer.

(...)

Não há poema isento.
Há é o homem.
Há é o homem e o poema.
Fundidos.


Alphonsus de Guimaraens Filho

1/26/2006

um sorriso

Pedro Soares


Quando
com minhas mãos de labareda
te acendo e em rosa
embaixo
te espetalas
quando
com minha acesa antorcha e cego
penetro a noite de tua flor que exala
urina
e mel
que busco eu com toda essa assassina
fúria de macho?
que busco eu
em fogo
aqui embaixo?
senão colher com a repentina
mão do delírio
uma outra flor: a do sorriso
que no alto o teu rosto ilumina?


Ferreira Gullar

Boda Espiritual

by Carol Hudson

Tu não estás comigo em momentos escassos:
No pensamento meu, amor, tu vives nua
- Toda nua, pudica e bela, nos meus braços.

O teu ombro no meu, ávido, se insinua.
Pende a tua cabeça. Eu amacio-a...Afago-a...
Ah, como a minha mão treme... Como ela é tua...

Põe no teu rosto o gozo uma expressão de mágoa.
O teu corpo crispado alucina. De escorço
O vejo estremecer como sombra n'água.

Gemes quase a chorar. Suplicas com esforço.
E para amortecer teu ardente desejo
Estendo longamente a mão pelo teu dorso...

Tua boca sem voz implora em um arquejo.
Eu te estreito cada vez mais, e espio absorto
A maravilha astral dessa nudez sem pejo...

E te amo como se ama um passarinho morto.

Manuel Bandeira

os livros por ler, atrás da cruz


crucifixam todos os meus dias.

1/25/2006

hora de recreio

isso pensava eu...

cheguei a casa e a Lucky comera-me a manteiga. o meu trauma foi tal que deixei cair o cérebro ao chão.


depois amuei e não falei com ela. andei pela casa sem sequer a olhar.

dissimulada, viu-me sentada, de camara na mão e veio para o meu colo fazer pose.



aqui a têm como se fosse ela a boa desta fita.

1/24/2006

hoje

hoje o céu era um bloco cinzento de espuma.
por causa disso ou não, um homem matou a mulher e quis matar-se. misturar-se com o rio. enganado que estava no caminho, por causa da água do rio que reflectia o cinzento do céu.


o que o homem queria nesse momento, era subir em recta paralela direito ao deus dos assassinados em busca da mulher. ressuscitá-la.



pobres dos dois, nenhum era uma árvore.

um amor perfeito

a Lucky

1/23/2006

hora de saída



o 56? não, não é o meu, o meu já passou.

o tempo contado nos passos que dou.


o tempo contado. o tempo. a vida.

a morte é apenas a última ferida.


se pensar assim digo: já não dói!

e até parece que a morte se foi.


vivo cada dia sem nenhuma espera

a vida que vivo não será. já era.
paper life

cardo

ali kabas.

Cardo,
que não se deixa tocar,
guarda o pudor,
e só quando o fogo o consome,
se abre em flor.

Manuel Filipe

1/22/2006

excerto de noite que ri


(...)
Para quem desconhece o meu processo de selecção de leituras convém aqui fazer um parêntese sob a forma de parágrafo.Todos os livros que chegam às minhas mãos ─ e estão constantemente a chegar e partir, embora o tráfego de partidas seja menos congestionado ─ são postos na estante e enfileirados segunda a ordem de chegada. Só abro excepção aos livros escritos por amigos meus. A Noite e o Riso, por mais que o bichinho da curiosidade mo pusesse à frente dos olhos, teve que navegar por águas antes navegadas, as águas de bacalhau, e esperar que chegasse a sua vez de saltar para a minha cabeceira.Posso adiantar que gostei, que meu deu vontade de rir e de zuca-andor para a noite ─ e quando o universo dum livro nos impele a querer conhecê-lo directamente e transpor a mediação enciclopédica que o próprio nos oferece, bom, nesse caso, devemos tirar o chapéu e tudo o resto para termos intimidade com o autor.Mas já lá vamos…Eis que o Rui Almeida mete o nariz nesta história para a qual as suas fossas nasais pareciam não ser chamadas.Não me recordo onde, quando, a que propósito, não me recordo de nada e nada me importo com isso, mas estou agora a ver e ouvir o Rui revelar-me, ainda antes de eu desfolhar e ser desflorado por A Noite e o Riso, que o Nuno Bragança era católico ─ repito: o Nuno Bragança era católico, sim, era católico, sim passeava-se, embriagado que nem um cacho, pelo Intendente, sim era viciado no jogo, sim colaborou na Seara Nova e no Tempo e o Modo, sim VV convence-te de que uma coisa são os anjos (não têm sexo), outra a guarda (têm cacetete), e outra os católicos (têm, como tu, a virtude no meio das pernas).Esta revelação abriu-me a boca de espanto, mas não me impôs abstinência de espécie nenhuma. Faço da promiscuidade uma prática viva ─ uma prática a que dou vivas hips e hurras. Não se constituiu qualquer complexo em ler o Nuno Bragança (afinal, ainda há umas semanas atrás, eu havia lido o Hitler!). Gosto de visitar os bordéis culturais todos, de privar com as putas que por lá param e parem, os chulos que lhes sugam o tétano e a pachacha. Merecem-me igual, ou vá lá que um homem não é de pau, idêntica atenção e curiosidade. Não respeito nenhum, porque sou inflexível no meu sentido igualitário. Até gostava de encontrar alguém digno do meu respeito. A sério, o meu desrespeito por tudo e por todos não é um capricho. Nem para comigo próprio, eu que, como dizia o poeta, sou vil e reles, adopto uma atitude diferente. Adiante que estou a ficar sem papel [Sic].A estrutura de A Noite e o Riso, conforme atestado em uníssono pelo pregão dos críticos literários, é revolucionária ─ íssima, íssima, para voltar a parafrasear o poeta que todos menos os seus contemporâneos, especialmente os seus vizinhos, o reconhecem como tal. Numa primeira e apressada leitura, não se vislumbra elemento conectivo entre os três, digamos, capítulos ─ e mesmo dentro destes, usemos agora um termo rebuscado para casarmos a grosseria com a erudição e fecundarmos um monstrinho de duas cabeças contraditórias, sub capítulos também não é imediatamente visível a ligação, senão ao leitor que se apaixona por este romance (perdoem-me os senhores experimentalistas e sugirem um sinónimo em experimentalês se faz favor) à primeira vista.Concentre-se no segundo capítulo, o do meio, logo o virtuoso. Cada parte está baptizada (e aqui começa a dar o cheiro a catolicismo) com o nome duma personagem do livro ─ uma pega, um bêbedo, um companheiro de tertúlia. Como a própria bíblia! O Nuno Bragança, não deixando de ser um escritor de vanguarda, um rupturista, diz e cumpre que das fontes originais do pensamento ocidental também bebe.Mas não se pense que se furtou ao efeito estonteante da mistura. Ele quis apanhá-la, à séria e à francesa. Todas as rábulas, ainda que contadas em timbre moral, ecoam a terminologia e a mundovisão surrealista, a prosa decalcada das vivências próprias da beat generation, a náusea e a ambulante condição de estrangeiro do existencialismo, a ideologia marxista.Hoje o Nuno Bragança pouco fala aos ouvidos, encerados por abelhas aberrantes, diga-se de passagem, das novas gerações de literatos (Outro Nuno, o Moura, escreveu qualquer coisa como os poetas seniores continuam a empatar e as esperanças não encontram soluções de ataque). Compreendo em parte porque se trata dum autor que peca (lá estamos a ser católicos) por ter uma escrita e um universo datados, como o gin tónico do Mário Henrique Leiria (datados, repito, mas não fora do prazo, pelo que toca a ler). Esta Lisboa já não existe. O Cesariny, n`Autografia, lamenta que «Lisboa morreu e nem lhe fizeram o enterro».Cada vez conheço mais mortos que deviam dar razão ao HP Lovecraft, provando aos de carne que os de osso podem voltar.Vitor Vicente [
O ANIMADOR DESANIMADO]

in Terra da Alegria

viciado em jogo? essa não me contaste Homem. que pecado!

as coisas que a gente aprende na net a estas horas tardias!


Rune Werner Molnes


quando Pedro soube isto, fechou-te mesmo o céu a 7 chaves.
mesmo assim, aconselho o incauto leitor, a ler do mesmo autor, Directa. outra espécie de noites não referidas aqui.

1/21/2006

dissolver-me

Paulo C. Gama
~
dissolver-me em amor

espalhá-lo em água

de rio de mar. água corrente

sempre.

entorná-lo pelo mundo.

inundar almas novas.

fazer do amor que sei

um todo berço

para as gerações ainda por nascer.

plantas e cristais de água

Marian

Marian

Marian

Arte de amar

Pascal Renoux

Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus — ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.


Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.

Porque os corpos se entendem,
mas as almas não.

Manuel Bandeira.

1/20/2006

nós emigramos. hoje. sabemos todos escrever?

by Spyros Meletzis

Carta De Um Contratado


Eu queria escrever-te uma carta
amor,
uma carta que dissesse
deste anseio
de te ver
deste receio
de te perder
deste mais bem querer que sinto
deste mal indefinido que me persegue
desta saudade a que vivo todo entregue...

Eu queria escrever-te uma carta
amor,
uma carta de confidências íntimas,
uma carta de lembranças de ti,
de ti
dos teus lábios vermelhos como tacula
dos teus cabelos negros como dilôa
dos teus olhos doces como maboque
do teu andar de onça
e dos teus carinhos
que maiores não encontrei por aí...

Eu queria escrever-te uma carta
amor,
que recordasse nossos tempos na capopa
nossas noites perdidas no capim
que recordasse a sombra que nos caía dos jambos
o luar que se coava das palmeiras sem fim
que recordasse a loucura
da nossa paixão
e a amargura da nossa separação...

Eu queria escrever-te uma carta
amor,
que a não lesses sem suspirar
que a escoindesses de papai Bombo
que a sonegasses a mamãe Kieza
que a relesses sem a frieza
do esquecimento
uma carta que em todo o Kilombo
outra a ela não tivesse merecimento...

Eu queria escrever-te uma carta
amor,
uma carta que ta levasse o vento que passa
uma carta que os cajús e cafeeiros
que as hienas e palancas
que os jacarés e bagres
pudessem entender
para que o vento a perdesse no caminho
os bichos e plantas
compadecidos de nosso pungente sofrer
de canto em canto
de lamento em lamento
de farfalhar em farfalhar
te levassem puras e quentes
as palavras ardentes
as palavras magoadas da minha carta
que eu queria escrever-te amor....

Eu queria escrever-te uma carta...
Mas ah meu amor, eu não sei compreender
por que é, por que é, por que é, meu bem
que tu não sabes ler
e eu - Oh! Desespero! - não sei escrever também.


William Ropp

Poema de António Jacinto

1/19/2006

TUDO PELOS ARES

Miguel Delgado e Silva


Somos anjos perdidos.
Asas mortas no chão
desde a primeira audição
da palavra impossível.



Fabio Rocha

o que é subir alto?


eu fico por aqui.

-----------------


Quanto mais alto se sobe, mais longe é o horizonte.

Vergílio Ferreira

1/18/2006

tinha sonhos tinha sonhos


By Steve Smith

nasceu em terras de mar. alguém a pegou inteira e lhe atirou para a praia os sonhos que acalentara. o mar levou de raíz sonhos que desde menina deixara crescer ao sol.


- aonde andam os meus sonhos?


gritou então pelas praias a ver se apesar de tudo, algures, a árvore crescera.

é que o mar tem mãos de berço, pode tê-la transportado para terras bem mais férteis que as que conheceu aqui.


tinha sonhos, tinha sonhos de ser uma árvore frondosa com os ramos como filhos e a sombra para descanso de quem não tivesse paz.


Cepolina photo


nunca mais os encontrou. e, fria como uma pedra, para nada mais lhe roubarem, atirou-se ela ao mar.


agora repousa na água que lhe arredondou a dor.


tinha sonhos. tinha sonhos que hoje não sabe não pode ou nem sequer quer contar.


Cepolina photo

- conte o mar. que conte o mar!



à Lmatta, com admiração e carinho.

Aos que vierem depois de nós

W Ropp


Realmente, vivemos muito sombrios!
A inocência é loucura. Uma fronte sem rugas
denota insensibilidade. Aquele que ri
ainda não recebeu a terrível notícia
que está para chegar.

Que tempos são estes, em que
é quase um delito
falar de coisas inocentes.
Pois implica silenciar tantos horrores!
Esse que cruza tranqüilamente a rua
não poderá jamais ser encontrado
pelos amigos que precisam de ajuda?

É certo: ganho o meu pão ainda,
Mas acreditai-me: é pura casualidade.
Nada do que faço justifica
que eu possa comer até fartar-me.
Por enquanto as coisas me correm bem
[(se a sorte me abandonar estou perdido).
E dizem-me: "Bebe, come! Alegra-te, pois tens o quê!"

Mas como posso comer e beber,
se ao faminto arrebato o que como,
se o copo de água falta ao sedento?
E todavia continuo comendo e bebendo.

Também gostaria de ser um sábio.
Os livros antigos nos falam da sabedoria:
é quedar-se afastado das lutas do mundo
e, sem temores,
deixar correr o breve tempo. Mas
evitar a violência,
retribuir o mal com o bem,
não satisfazer os desejos, antes esquecê-los
é o que chamam sabedoria.
E eu não posso fazê-lo. Realmente,
vivemos tempos sombrios.


Para as cidades vim em tempos de desordem,
quando reinava a fome.
Misturei-me aos homens em tempos turbulentos
e indignei-me com eles.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

Comi o meu pão em meio às batalhas.
Deitei-me para dormir entre os assassinos.
Do amor me ocupei descuidadamente
e não tive paciência com a Natureza.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

No meu tempo as ruas conduziam aos atoleiros.
A palavra traiu-me ante o verdugo.
Era muito pouco o que eu podia. Mas os governantes
Se sentiam, sem mim, mais seguros, — espero.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

As forças eram escassas. E a meta
achava-se muito distante.
Pude divisá-la claramente,
ainda quando parecia, para mim, inatingível.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

Vós, que surgireis da maré
em que perecemos,
lembrai-vos também,
quando falardes das nossas fraquezas,
lembrai-vos dos tempos sombrios
de que pudestes escapar.

Íamos, com efeito,
mudando mais freqüentemente de país
do que de sapatos,
através das lutas de classes,
desesperados,
quando havia só injustiça e nenhuma indignação.

E, contudo, sabemos
que também o ódio contra a baixeza
endurece a voz. Ah, os que quisemos
preparar terreno para a bondade
não pudemos ser bons.
Vós, porém, quando chegar o momento
em que o homem seja bom para o homem,
lembrai-vos de nós
com indulgência.


Bertolt Brecht
(Tradução de Manuel Bandeira)

Aforismo


Havia uma formiga
compartilhando comigo o isolamento
e comendo juntos.
Estávamos iguais
com duas diferenças:
Não era interrogada
e por descuido podiam pisa-la.
Mas aos dois intencionalmente
podiam por-nos de rastos
mas não podiam
ajoelhar-nos.
José Craveirinha

1/17/2006

o segredo do lírio

at autre.dimension.free

Pois não foi um lírio na sua quietude,
que me segredou,
que em águas secretas aonde bebia,
fluíam torrentes,
frias, opalinas,
forçando paisagens nas lavas acesas
do ventre do mundo?


Manuel Filipe

será que com este fato

lochnell- John
eu engolia o Cavaco?


há ave que se dignasse

a emprestar a penagem

a animal tão erecto

para que em campanha a usasse?



virava logo pitéu

no dia da eleição

não fosse o bicho contar

a um primo ou um irmão

ser ele o real eleito


não o príncipe perfeito

que mesmo sem governar

sabe salvar a nação.


eu não o engulo, não!

1/16/2006

como eu o entendo

menachem reiss

ou julgo entender.amarrada que estou de pés e mãos a este meu país a apodrecer.



Os sapatos.

Enfio os mocassinos do meu tempo nos pés
e piso a senda lenda dos meus antepassados.
Hoje, sou eu que passo o cabo das tormentas nos cafés
quando vomito a Índia nos lavabos.
Se Egas Moniz foi herói
duma bravata bonita
eu sou quem paga o resgate
da história que me limita.
A linda Inês dos meus olhos
foi reposta em seu sossego
não há hidroenergia
que ressuscite o Mondego
não há barragem que estanque
o nosso caudal de medo
não há sonho que levante
o sonho que é hoje infante
na ponta dum pesadelo.
Ai flores Ai flores de lapela
flores de plástico e de feltro
filigrana caravela
que estás cada vez mais perto
filha de Vasco da Gama
dado como pai incerto.
Partem tão tristes os pés
de quem te arrasta consigo
tão andados tão modernos
tão vazios de sentido
tão queimados deste inferno
que têm as solas gastas
e o caminho puído.
Partem tão tristes os pés
de quem te arrasta consigo


passeiam
andam
desandam
param
perseguem
persistem
caminham
calculam
correm

doem detêm desistem.
Partem tão tristes os tristes
tão fora de chegar bem.


J. C. Ary dos Santos

aqui porei o que quero

gavin o'neill

cães gatos homens mulheres

receitas e preconceitos

escritos meus e outros bem feitos

e tudo o que me aprouver

até descobrir quem sou:

se aquela que às vezes sinto

se a outra que olho sem ver.

1/15/2006

eu disse

gavin o'neill

este é a fingir. aqui venho repousar.

o meu blog verdadeiro é o
Vida de papel, onde espero me visitem.
lá uso máscaras várias. escrevo nos estilos que quero e, ninguém, quase ninguém está interessado em quem sou.
por isso é para lá que vou.

html>